domingo, 26 de abril de 2020

Adeus, Vasquinho!


“Se ser populista é tratar bem os pobres, não ter vergonha de entrar na sala de pessoas humildes e tomar um cafezinho, eu, evidentemente, vou continuar sendo populista”

Vasco Alves, 6 de agosto de 1941 – Vila Velha, 25 de abril de 2020

Todo governante que se dedica a governar para todos, com enfoque para os mais necessitados e não para os interesses de uma minoria que sempre foi useira e vezeira do Estado, é taxado pejorativamente de populista.

Sim, Vasco Alves foi esse cidadão, que em sua trajetória de vida, de advogado e de político, teve sempre como referência os interesses dos mais necessitados.

Na vida pública pode demonstrar sua vocação democrática, respeito à coisa pública e compromisso com os interesses do povo nas duas vezes em que foi prefeito de Vila Velha, como deputado federal constituinte e quando exerceu o mandato de prefeito do município de Cariacica.

Devoto e discípulo de são Francisco de Assis, embora suas condições financeiras permitissem viver uma vida com mais regalias e confortos – e até com mais ostentação –, teve sempre hábitos simples, espartanos.

Meus primeiros contatos mais próximos com Vasquinho ocorreram a partir de 1995, quando ele era prefeito de Cariacica e eu trabalhava no governo do estado.

Estive algumas vezes em seu gabinete, na antiga sede da prefeitura cariaciquense para tratar de questões da gestão pública e encontrava sempre as portas escancaradas e o gabinete lotado de lideranças municipais, funcionários da prefeitura por ele convocado para assessoria e encaminhamentos dos assuntos que ali estavam sendo discutidos, onde todos, evidentemente, conheciam dos assuntos de todos, em um aparente caos, mas com decisões sendo tomadas e soluções fluindo normalmente. Transparência muito além dos discursos e das normas.

Por traz da autêntica simplicidade, havia um homem culto, inteligente, um advogado com profundo conhecimento das leis, um político comprometido com as causas populares e sempre atento à necessidade de lutar pela democracia e pelo Estado democrático de direito.

Escrevia regularmente suas análises e impressões nas redes sociais, sobre questões relacionadas à política nacional, em textos sucintos e precisos, alguns dos quais publiquei no portal Vermelho, na seção dos Estados. Reproduzo um deles aqui, que muitos irão interpretar como uma visão parcial, tendente a uma das forças políticas em disputa no Brasil, mas que, na verdade, trata exclusivamente de uma contribuição necessária de um democrata que jamais se omitiu em defender a Constituição brasileira, mesmo que isso significasse remar contra a maré, como a que vivemos agora, quando cada vez mais se estreitam as condições para debates democráticos, substituídos pela insensatez, pela intolerância e pelo ódio:

"O momento político nacional

O momento político nacional está bastante pesado e extremamente conturbado. Aliás, como ensinava o saudoso Sérgio Ceotto, 'a situação está de vaca não conhecer bezerro'.

Entendo que a turma da lava jato, que hoje está politicamente no mesmo campo de atuação que o grupo do Presidente da República e seus filhos, quer neste momento solapar a qualquer custo a única instituição que eles temem:  o Supremo Tribunal Federal (STF).

Para tanto, através da mesma rede social de Fake News que utilizaram nas eleições, querem agora derrubar alguns ministros do STF para poderem com isso nomear novos ministros e, assim, tornar a Corte dócil aos seus interesses.

Isso explica a reação do STF em instaurar  Inquérito, a fim de  apurar o que está por traz  da onda que quer desmoraliza-lo. Explica também a posição de Bolsonaro que,  há poucos dias, defendia a ditadura e a tortura como métodos de atuação política e nesse episódio vem a público para defender  o direito constitucional à LIVRE expressão do pensamento e plena liberdade de comunicação.

O MPF entra nessa história, confundindo inquérito com ação penal, querendo ser o 'rei da cocada preta', como se não bastassem os poderes que lhe outorgamos na carta magna de 88."

Foi sob sua primeira gestão à frente da prefeitura de Vila Velha que teve início uma das primeiras experiências de adoção do orçamento participativo, instrumento pelo qual a sociedade participa da definição dos investimentos prioritários de cada ano, antes da peça orçamentária ser enviada para apreciação e aprovação do poder legislativo.

Mas se havia outras experiências do mesmo tipo sendo conduzidas em outras municipalidades, como em Porto Alegre, Vila Velha foi o primeiro município a normatizar a elaboração do orçamento de forma participativa, quando o prefeito Vasquinho, no ano de 1983, sancionou uma lei para institucionalizar o processo, que mais tarde veio a ser incluído na Lei Orgânica.

O correr da vida não permitiu que tivéssemos contatos frequentes ao longo dos anos, desde aquele longínquo 1995, embora volta e meio nos encontrávamos por estes percursos da política que sempre fizeram parte da vida dele e da minha. Entretanto tive a oportunidade e a felicidade de tornar mais amiúde esses contatos a partir de 2015, quando as circunstâncias da vida nos aproximou em torno do processo eleitoral que culminaria com as eleições municipais de 2016.

Nessa época iniciamos a construção de uma alternativa para governar Vila Velha e contribuir com o fortalecimento do poder legislativo municipal, que batizamos de Frente Vila Velha de Participação Popular (FVVPP), construída inicialmente com as adesões do PPL, partido dirigido no Espírito Santo por Vasco Alves; PCdoB e PT. Infelizmente não logramos êxito em consolidar o projeto. Mesmo assim Vasco, com sua determinação, disposição e coragem, foi para a disputa em uma coligação PPL/PT. Não teria sido sua última experiência no campo de batalha eleitoral, caso o percurso de sua vida não tivesse sido concluído nesse último dia 25 de abril, uma data que considero quase como um réquiem a esse grande brasileiro canela verde, pois nesse mesmo dia e mês, no ano de 1974 se deu a Revolução dos Cravos, que derrotou o regime fascista que governava Portugal desde 1933.


domingo, 27 de janeiro de 2019

O povo cubano grita bem alto: Lula livre, já!

No dia primeiro de janeiro de 2019, Raul Castro Ruiz fez um chamado solidário para que a luta pela liberdade de Lula fosse uma luta de todo o povo cubano.

No dia 25 do mesmo mês, o presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) Fernando González Llort, fez um chamamento ao mundo pela liberdade de Lula, lançando a campanha de solidariedade "Lula livre, já!"

Lula livre já! Este será nosso objetivo a partir de hoje, junto a milhões de mulheres e homens dignos do planeta, expressou o presidente do ICAP, durante  XXIII Oficina Internacional sobre paradigmas emancipatórios.

Esse foi o texto apresentado para o do lançamento da campanha:

Fidel Castro Ruz, líder histórico e voz presente da Revolução Cubana, mais de uma vez afirmou e nos lembrou que o internacionalismo constitui a própria essência do socialismo.

Hoje materializamos uma nova ação internacionalista. Desta vez, chamados todos os revolucionários cubanos a se somarem, de forma muito mais concertada e intensa, ao movimento internacional de solidariedade com o ex-presidente Lula.

Desde que Lula foi preso injustamente, muitas de nossas organizações sociais, de forma espontânea e alentadora, começaram a desenvolver ações para a sua libertação.

A partir de hoje, somaremos todas as forças e multiplicaremos nossos esforços para exigir liberdade imediata para o ex-presidente, originário da classe trabalhadora a ex-classe trabalhadora e que tanto fez para os mais pobres no país. Para as vozes que exigem sua liberdade de sejam ouvidas em todo o mundo.

Os estudantes, os jovens em geral, as mulheres, os sindicalistas, os agricultores, os cientistas, os intelectuais e toda a nossa sociedade organizada, demonstrarão com fatos, algo que nos orgulhamos: Cuba nunca abandona os seus verdadeiros amigos, muito menos aqueles que são vítimas de permanentes injustiças.

A direita pôs em curso em toda a América Latina e Caribe, uma batalha em larga escala, manipulando o sistema judicial, para criminalizar de forma seletiva e em todos os níveis, os líderes de esquerda.

Essa direita, por natureza corrupta e corruptora, mente sem nenhum escrúpulo, para assim destruir a imagem pública de figuras como Lula, Dilma Rousseff e Cristina Fernández de Kirchner. Conspira, sem limitação alguma, para deturpar os melhores legados destes, manipulando a bandeira legítima da luta contra a corrupção.

Dentre estes três líderes, Lula já cumpre uma sentença de 12 anos e 1 mês por um crime que não cometeu. O procurador que propôs sua condenação disse “eu não tenho nenhuma prova, mas estou convencido." Ou seja, sem prova alguma manifestou sua convicção de que Lula era culpado.

Nós confiamos na inocência de Lula. Não só porque até hoje nenhum juiz nem procurador conseguiu provar qualquer crime, mas porque os homens públicos como ele, homens com o senso de suas responsabilidades históricas como ele, jamais se atreveriam a comprometer suas imagens diante de seu povo.

Um culpado não pede que seus delitos sejam provados. Um culpado não coopera com os órgãos do judiciário como Lula tem feito. Um culpado não faz declarações como as seguintes, antes de se apresentar a seus carcereiros:

"Saibam - disse à multidão que o cercava - que esse pescoço aqui não se dobra, porque eu vou sair com cabeça erguida e o peito aberto, porque vou provar minha inocência".

"Vou encontrá-los cara a cara, frente a frente aceitando o cumprimento da ordem" (referindo-se ao mandado de detenção).

"Eu vou para lá (para a cadeia em Curitiba) para que eles saibam que eu não tenho medo, eu não vou fugir, para que eles saibam que vou provar provar minha inocência."

Assim falou Lula a seus seus seguidores. Assim falou ao mundo. Assim falou a seus filhos e netos. Assim mostrou segurança em sua inocência. Assim, e por essa firmeza e convicção, vamos apoia-lo decididamente até que esteja livre.

Façamos realidade o chamado solidário feito pelo General de Exército Raúl Castro Ruz, em primeiro de janeiro passado: transformar a solidariedade com Lula em causa comum dos cubanos e cubanas. Vamos ajudar a todas as pessoas honestas do planeta a contribuirem para a sua liberdade e para cessar os ataques e perseguições judiciais contra as ex-presidentas Dilma Rousseff e Cristina Fernández de Kirchner.

A ocasião e propicia. A XIII Oficina Internacional sobre Paradigmas Emancipatórios demandou com justa razão e sentido de urgência, que a solidariedade entre os povos seja transformada em fatos tangíveis, em obra coletiva que some a unidade necessária entre eles.

Unamo-nos também à condenação e rejeição enérgicas à tentativa de impor à Venezuela, através de um golpe de Estado, um governo títere a serviço dos EUA. Faz parte, como a perseguição a Dilma e Cristina e a prisão de Lula, de uma estratégia do imperialismo.


livre Lula, já. Esse será o nosso objetivo a partir de hoje, junto a milhões de mulheres e homens dignos do planeta.

Claudio Machado

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Antes mesmo de assumir Bolsonaro provoca tragédia humana no Brasil

Tragédia humana. É o único significado para a situação provocada pelas ameaças feitas por Bolsonaro e que resultará na saída de milhares de médicos e medicas cubanos do Brasil.

No final de 2017, no programa Mais Médicos trabalhavam 18.240 médicos e médicas, sendo 8.332 cubanos, 4.525 vagas ocupadas por médicos formados no Brasil e que têm prioridade na seleção, 2.842 brasileiros formados no exterior e 451 médicos de outras nacionalidades. Existem ainda 2.000 vagas não preenchidas.

2.885 municípios brasileiros contam com a presença dos médicos e médicas cubanos, a maioria no semiárido nordestino, região amazônica, saúde indígena, cidades com baixo IDH e periferias das grandes cidades.

Destes municípios, 1575 só contam com médicos cubanos e 75% dos médicos que atendem as terras indígenas são também cubanos. Todos estes locais poderiam estar sendo atendidos por médicos brasileiros, mas que não atendem em quantidade suficiente para suprir a demanda, por desinteresse em irem trabalhar nas periferias das grandes cidades, sertão nordestino, amazônia, população indígena e outros rincões do Brasil profundo e desassistido

O Programa Mais Médicos foi criado para levar atendimento de saúde à população desassistida, mas também para formar médicos voltados para a atenção básica, numa tentativa de a médio prazo reverter o quadro de carência de médicos nessa que deve ser a prioridade da medicina e não como predomina hoje, como disse o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira dos Santos, em reportagem da revista Exame (https://exame.abril.com.br/brasil/mais-medicos-e-importante-continuar-com-o-programa/) para quem "a saúde hoje é sustentada pela doença, na prática de tratamentos e de atendimentos hospitalares, e não na prevenção. O programa modifica essa lógica e por isso levantou tantas críticas" pela comunidade médica e por empresários que lucram com a medicina curativa. Basta constatar que 48% da atenção básica atualmente é suprida por médicos do programa.

68 milhões de brasileiros e brasileiras são assistidos pelo Programa Mais Médicos e cerca de 28 milhões destes estão prestes a viver uma anunciada tragédia humana, provocada pelas permanentes e reiteradas ameaças feitas diretamente pelo presidente eleito, Jair Messias Bolsonaro, ao afirmar que fará exigências, no mínimo estapafúrdias e que, no caso da exigência do exame Revalida, atingirá não só profissionais cubanos, mas também de outras nacionalidades e brasileiros formados no exterior que trabalham  no Programa.

As exigências prometidas por Bolsonaro são feitas por quem desconhece completamente o programa mais Médicos e o papel de Cuba no suprimento de profissionais de medicina mundo afora, como é feito no Brasil.

Exigir o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos) não tem nenhum cabimento no caso, pois é um procedimento adotado para permitir que médicos estrangeiros residentes no Brasil e brasileiros formados no exterior, possam exercer a medicina plena em todo o território nacional e em quaisquer áreas da medicina para as quais estejam qualificados. Médicos e médicas cubanos não têm qualificação de residentes, atuam em locais específicos e pré determinados pelo governo brasileiro e apenas em atenção básica à saúde. Não cabe o exame que o presidente eleito ameaça exigir.

Quanto a poder trazer a família do médico ou médica, é outra invenção sem pé nem cabeça do futuro presidente. Nem mesmo os cubanos e cubanas que voluntariamente aderiram ao Programa Mais Médicos e que têm famílias em Cuba desejam traze-las para cá. A permanência aqui é temporária e, ao mesmo tempo se criaria imensos transtornos e custos para a manutenção dessas famílias. Sim, por que quem arcaria com as despesas de moradia, assistência à saúde, educação e outros gastos? Lá a saúde e a educação além de serem de alta qualidade são integralmente gratuitas e na maioria das vezes o esposo ou esposa que fica também trabalha.

Sobre a terceira exigência, que seria o pagamento integral do salário, trata-se de outra distorção da realidade, por desconhecimento ou má fé. Os médicos e médicas cubanos que vieram para o Brasil são funcionários de carreira do ministério de saúde daquele país, continuam recebendo seus salários e tem seus postos de trabalho garantidos, com todos os benefícios da carreira.

Não há pagamento de salários aos médicos cubanos, por isso essa exigência de ter que pagar salário integral é uma coisa sem pé nem cabeça. O acordo de cooperação funciona assim: A vinda dos médicos cubanos para ingressarem no Programa Mais Médicos é mediada pela Organização Panamericana de Saúde-OPAS. O Brasil paga uma mensalidade à OPAS, que repassa para o Ministério da Saúde Pública de Cuba, que, após reter os impostos e demais custos, repassa cerca de R$ 3.000,00 reais aos médicos e medicas cubanos, a título de ajuda de custo. Vale ressaltar que as despesas com alimentação e moradia são custeadas pelas prefeituras onde atuam.

Se o futuro governo, por motivação ideológica prefere relegar 28 milhões de brasileiras e brasileiros à própria sorte, no que diz respeito à atenção básica de saúde, a cooperação de Cuba nessa área seguira firme por todos os cantos do planeta. Ela está presente em 66 países, inclusive Portugal e Russia, sendo que grande parte destes não recebe qualquer tipo de cobrança pelos serviços prestados. 27 países mais necessitados como Congo, Etiópia, Tanzânia, Zimbábue, Honduras Bolívia, Haiti, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, entre outros recebem apoio de médicos cubanos de forma gratuita, por intermédio de seu Programa Integral de Saúde.

O futuro governo, por insensatez e motivação ideológica força a saída de 8.332 médicos e médicas cubanos, o que  deixará 28 milhões de brasileiros e brasileiras à própria sorte, sem qualquer tipo de assistência à saúde, além de inviabilizar a continuidade do Programa Mais Médicos, o que é um verdadeiro crime contra milhões de desassistidos desse país.

A Associação Cultural José Marti do Espírito Santo - ACJM/ES repudia as atitudes grosseiras autoritárias e ingratas manifestadas pelo futuro presidente Jair Messias Bolsonaro contra Cuba e agradece aos médicos e médicas cubanos por sua dedicação incondicional à nobre tarefa de levar ao povo mais pobre do Brasil sua dedicação como profissionais da medicina a lugares com imensa carência de atenção básica à saúde e mesmo a lugares que jamais haviam podido contar com um único médico.

ACJM/ES
Marluzio Ferreira Dantas - Presidente
Claudio Machado - Secretário Geral









A prisão de Lula e a crueldade de seus algozes

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

E o golpe caminha a passos largos

Ministro da defesa, Raul Jungmann diz que mandado coletivo de busca e apreensão pode ser adotado no Rio de Janeiro, sob intervenção federal.

Imaginem o que significa isso.

Ruas inteiras, ou até bairros inteiros podem ser submetidos a essa excrecência autoritária, caso venha a ser autorizada pela justiça.

Com essa autorização, a polícia e o exército (este, operador da intervenção de #TemerDitador), com um mandado na mão para prender alguém que more em determinado endereço em uma das favelas do RJ, poderá entrar em todos as residências e imóveis de determinada rua o bairro, como se qualquer um desses locais pudesse ser a moradia do procurado pela justiça.

Ou seja, milhares de famílias que nada devem à justiça poderão ter seus lares violados pela truculência de um (des) governo usurpador, decrépito, execrado pela quase unanimidade da população brasileira, que tenta se legitimar pela via autoritária.

O ministro Jungmann, tentando naturalizar essa aberração, afirmou que em outras ocasiões o mandado coletivo de busca e apreensão já foi adotada. De fato já foi, recentemente.

Em novembro de 2016, depois que um helicóptero da Polícia Militar caiu na Cidade de Deus,  a Juíza Angélica dos Santos Costa concedeu, liminarmente, autorização para execução de mandado de busca e apreensão coletivo, alegando que "em tempos excepcionais, medidas também excepcionais são exigidas com intuito de restabelecer a ordem pública".

Mas o que o ministro do governo usurpador esqueceu de dizer é que as operações de busca e apreensão "coletivas" realizadas na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro, foram consideradas ilegais pela 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do estado. E a decisão foi unânime.

O desembargador relator destacou que como não houve a individualização das casas e dos moradores atingidos pela medida restritiva de direitos fundamentais - como a inviolabilidade de domicílio e a intimidade -, "...a pena é de inversão ao disposto no ordenamento jurídico vigente, inclusive de normas internacionais de proteção à pessoa humana, e violação frontal ao Estado Democrático de Direito.”

Como vemos, o golpe se aprofunda e a ditadura explícita nos ronda cada vez mais de perto.

E, diferentemente do que disse Pedro Aleixo, vice-presidente do ditador Costa e Silva, quando da imposição do famigerado AI-5 em 1968, o problema de medidas de carater autoritário, como a do mandado coletivo, não se restringe apenas aos "guardas da esquina".

O problema é matricial. Esse governo já nasce autoritário, uma vez que se viabilizou pelo golpe de Estado que afastou a presidenta Dilma.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A coluna Praça Oito de 05/02/18 e a régua de Judith

O jornal “A Gazeta” é o principal jornal de meu estado, o Espírito Santo, embora perca em vendas para “A Tribuna”, seu concorrente direto.

Estão para o Espírito Santo, como os jornalões “O Globo”, “O Estado de São Paulo” e a “Folha de São Paulo” estão para o Brasil, ou seja, são, ao fim e ao cabo, porta-vozes dos grandes grupos econômicos locais e nacionais, e das forças políticas que os representam.

A mais tradicional coluna política de “A Gazeta” chama-se Praça Oito, que já teve mais influência, mais glamour, já foi mais “fonte” das novidades do mundo político, mas hoje, com os fatos e boatos circulando online, já não desperta mais tanto interesse.

Mesmo assim é uma coluna respeitada e, de certa forma, ainda tem um certo peso na formação da opinião dos leitores do jornal, o que deveria contribuir para maior esmero com as opiniões ali emitidas, mas que, infelizmente, não é o que acontece.

A edição de hoje (05/02) abre uma série de textos que irão tentar convencer o leitor que Lula e Bolsonaro têm muito mais semelhanças do que antagonismos. E começa por dizer que a principal semelhança entre os dois é que ambos repudiam o papel da imprensa, “um dos mais importantes pilares de qualquer nação que se pretende democrática”.

O colunista, indo na onda dos apelidos, inicia essa inacreditável e absurda abordagem com o título “Bolsolula: opostos, mas nem tanto”.

Destaca o titular da coluna que o “desapego de Lula pelo trabalho da imprensa e o ‘germe autoritário’ incubado em seu discurso político serão abordados na sequência das colunas.”

Vamos aguardar para ler e comentar, é claro, mas, a depender do que foi publicado hoje, pois pelo que já é afirmado na coluna Praça Oito de hoje, afirmando semelhanças entre Lula e Bolsonaro, inclusive quanto ao suposto viés autoritário de Lula, expresso, como diz a coluna, no seu repúdio ao trabalho da imprensa.

São afirmações tão estapafúrdias, fruto de uma leitura distorcida da realidade ou, pior, propositadamente construída com o intuito de influenciar o leitor de que é isso mesmo.

Que Bolsonaro é adepto do autoritarismo, não é necessário nenhum exercício analítico para se chegar a essa conclusão. Seu autoritarismo é autodeclarado e vem embutido com tudo que há de pior na humanidade, como homofobia, racismo, machismo, misoginia..., ou seja, fascismo na veia.

Também está muito claro que Bolsonaro não é o candidato dos sonhos das oligarquias nacionais e seus porta-vozes tradicionais, eles mesmos membros dessa oligarquia, como os grandes grupos de mídias com seus decadentes jornais impressos.

Já sabemos o mais que virá nas próximas colunas, num árduo e ingrato exercício de redação na tentativa de sustentar a tese de que Lula é autoritário e, por isso, tem “desapego pelo trabalho da imprensa”.

Mas a que trabalho da imprensa o colunista se refere? A qual imprensa o colunista se refere? Não pode ser outro senão aquele trabalho e aquela imprensa refletida pelo que afirmou em 2010, no auge do segundo governo Lula, Maria Judith Brito, então presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S. Paulo. Disse ela: A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação e, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo.

Então, atentem bem, quando o colunista de Praça Oito fala que Lula tem desapego pelo trabalho da imprensa, repudia o trabalho da imprensa, o ex-presidente deixa transparecer esse sentimento, faz esse juízo de valor da imprensa preconizada por de Maria Judith Brito.

Lula jamais repudiou ou repudia o jornalismo que busca a verdade, a informação legítima, para depois reportar com a maior fidelidade possível. Não há como fazer esse bom jornalismo se os grandes meios de comunicação nacionais e regionais, como A Gazeta, se orientam pela régua de Judith.
Mas vamos aguardar as próximas colunas de Praça Oito, para ver o malabarismo analítico que o titular da coluna fará para dar sustentação às supostas semelhanças entre Bolsonaro e Lula, e o enaltecimento do papel dos grandes grupos de mídia nacionais em defesa da democracia. Ei, Getúlio, ei JK, ei Jango... você leram isso?

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A canalhice dos meios de comunicação a serviço do golpe não tem limites

A principal revista semanal do Brasil, homenageada com o epíteto “esgoto sólido da maré baixa”, saiu este fim de semana com uma capa infame, trazendo a foto de dona Marisa, mulher de Lula falecida recentemente, logo acima da manchete em letras garrafais "A MORTE DUPLA".

Com essa manchete e sabe-se lá com que conteúdo fétido (me recuso a lê-la), esse lixo quer fazer seus incautos leitores acreditarem que Lula teria provocado a segunda morte de dona Marisa, quando "em seu depoimento ao juiz Moro, Lula atribui as decisões sobre o triplex no Guarujá à primeira-dama, falecida ha três meses."

Mais do que uma canalhice, mais do que uma infâmia, é uma maldade hedionda, própria de fascistas, que para alcançarem seus intentos, não respeitam qualquer limite de decência, de compaixão, de humanismo.

Marisa morreu em consequência de um aneurisma que havia sido diagnosticado ha algum tempo e veio a se romper, causando sua morte. É muito provável que o rompimento tenha sido provocado pelo permanente estado de tensão e estresse que ela vivia, em razão da verdadeira caçada humana sofrida por seu marido e que atingia direta e indiretamente toda sua família.

Mas nada disso importa para essa odiosa revista (?) a serviço de uma elite tacanha, arcaica, que jamais saiu da casa grande. Importa, sim, destruir Lula custe o que custar, independente dos métodos.

Diante de tantos exageros cometidos por aqueles que querem destruí-lo, de tanta obsessão por inviabiliza-lo eleitoralmente, não descarto até a possibilidade de que possa vir a ser eliminado fisicamente e recomendo cuidado com isso. Talvez seja essa uma das alternativas no rol dos caminhos escolhidos para impedir que o "jararaca" dispute as eleições presidenciais de 2018, a verdadeira bala de prata. Ainda que possa não existir um plano estruturado nesse sentido, sabemos que no meio de fascistas há sempre um bando de carniceiros sedentos por sangue, loucos para receber um "sinal" de seus chefes para a execução do serviço sujo.

Voltando à manchete infame, quem viu o depoimento de Lula - e eu tive o cuidado de assisti-lo integralmente - sabe que em nenhum momento o ex-presidente disse algo que tivesse a menor conotação com o que o detrito sólido da maré baixa deseja inculcar em seus leitores. E para aqueles que não assistiram o depoimento e não quiserem ter o trabalho de faze-lo, deixo aqui um link, do Blog da Milly, que poupou o trabalho de vocês, estraindo ponto a ponto, tempo a tempo, frase a frase, dos trechos em que o nome de dona Marisa foi citado: https://blogdamilly.com/2017/05/14/a-falsa-narrativa-de-que-lula-culpou-dona-marisa/

Luiz Inácio disse a verdade, ou seja, que a cota para aquele empreendimento do Guarujá foi adquirida por dona Marisa junto ao Bancoop em 2005, o que é a mais pura verdade, como comprovam a documentação existente. E não se tratava da compra de uma unidade específica do prédio que estava sendo construído pelo sistema cooperativista, mas de uma cota desse empreendimento, que, ao final, poderia ser materializado na propriedade de um dos imóveis, ou simplesmente ser usado como investimento. É quase como uma carta de crédito de um consórcio.

Quanto ao triplex, especificamente, Lula confirmou que esteve uma vez olhando o imóvel, mas que não gostou do que viu e nunca mais voltou.

Perguntado se dona Marisa havia voltado ao local, ele disse que ela havia retornado mais uma vez, mas que ele só ficou sabendo 10 ou 15 dias depois e que eles não se interessaram em ficar com o imóvel. Não há, nestas respostas, nenhuma conotação que possa levar qualquer mente sã a entender o que essa revista (?) de terceira categoria afirma.

Está claro que tais veículos de comunicação, incluindo rádio e televisão – estes com muito mais poder de contundência - entraram em um desespero tal, após o antológico depoimento de Lula e a gigante caravana que foi a Curitiba em seu apoio, que buscam freneticamente algo em que se pegar para tentar barrar o tsunami chamado Lula, que vem chegando cada vez mais próximo à praia para varrer os detritos fascistas que tentam aprisionar o Brasil depois de mais de uma década de governos democráticos e populares. E como já disse lá em cima, tudo farão para alcançar seu intento. Estamos sob os efeitos de um golpe de estado, ainda que não em sua forma clássica. Dessa vez a democracia não foi bombardeada por tanques, mas por armas tão letais quanto, vindas do arsenal do conluio midiático/jurídico/parlamentar, a serviço da plutocracia nacional, subserviente e beneficiária do imperialismo estadunidense.

A esse respeito vale ler ou reler a Carta Aberta escrita por Eugênio Aragão, subprocurador da República e ex-ministro da Justiça de Dilma, destinada Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, depois que este – ainda que não citasse o nome de Aragão – lhe teceu duras críticas em discursos proferido no ato de posse da ministra Carmen Lúcia, como presidenta do STF.  

Essa Carta Aberta foi publicada com exclusividade pelo Blog de Marcelo Auler, que a classifica com um documento histórico, com o que concordo. http://marceloauler.com.br/de-eugenio-aragao-a-rodrigo-janot-amigo-nao-trai-amigo-e-critico-sem-machucar-amigo-e-solidario/

Destaco um pequeno trecho da Carta Aberta, que nos traz luz para entender o pano de fundo da tragédia que o golpe nos impõe, sua amplitude em termos de apoio no aparelho de Estado, sua profundidade e o papel fundamental da mídia tradicional na manutenção e consolidação do avanço fascista:Compartilhei meus receios sobre os desastrosos efeitos da Lava Jato sobre a economia do País e sobre a destruição inevitável de setores estratégicos que detinham insubstituível ativo tecnológico para o desenvolvimento do Brasil. Da última vez que o abordei sobre esse assunto, em sua casa, o Senhor desqualificou qualquer esforço para salvar a indústria da construção civil, sugerindo-me que não deveria me meter nisso, porque a Lava Jato era ‘muito maior’ do que nós.”


Mais, não preciso dizer.