“Se ser populista
é tratar bem os pobres, não ter vergonha de entrar na sala de
pessoas humildes e tomar um cafezinho, eu, evidentemente, vou
continuar sendo populista”
Vasco Alves, 6 de
agosto de 1941 – Vila Velha, 25 de abril de 2020
Todo governante que
se dedica a governar para todos, com enfoque para os mais
necessitados e não para os interesses de uma minoria que sempre
foi useira e vezeira do Estado, é taxado pejorativamente de
populista.
Sim, Vasco Alves foi
esse cidadão, que em sua trajetória de vida, de advogado e de
político, teve sempre como referência os interesses dos mais
necessitados.
Na vida pública
pode demonstrar sua vocação democrática, respeito à coisa pública
e compromisso com os interesses do povo nas duas vezes em que foi
prefeito de Vila Velha, como deputado federal constituinte e quando
exerceu o mandato de prefeito do município de Cariacica.
Devoto e discípulo
de são Francisco de Assis, embora suas condições financeiras
permitissem viver uma vida com mais regalias e confortos – e até
com mais ostentação –, teve sempre hábitos simples, espartanos.
Meus primeiros
contatos mais próximos com Vasquinho ocorreram a partir de 1995,
quando ele era prefeito de Cariacica e eu trabalhava no governo do
estado.
Estive algumas vezes
em seu gabinete, na antiga sede da prefeitura cariaciquense para
tratar de questões da gestão pública e encontrava sempre as
portas escancaradas e o gabinete lotado de lideranças municipais,
funcionários da prefeitura por ele convocado para assessoria e
encaminhamentos dos assuntos que ali estavam sendo discutidos, onde
todos, evidentemente, conheciam dos assuntos de todos, em um
aparente caos, mas com decisões sendo tomadas e soluções fluindo
normalmente. Transparência muito além dos discursos e das normas.
Por traz da
autêntica simplicidade, havia um homem culto, inteligente, um
advogado com profundo conhecimento das leis, um político
comprometido com as causas populares e sempre atento à necessidade
de lutar pela democracia e pelo Estado democrático de direito.
Escrevia
regularmente suas análises e impressões nas redes sociais, sobre
questões relacionadas à política nacional, em textos sucintos e
precisos, alguns dos quais publiquei no portal Vermelho, na seção
dos Estados. Reproduzo um deles aqui, que muitos irão interpretar
como uma visão parcial, tendente a uma das forças políticas em
disputa no Brasil, mas que, na verdade, trata exclusivamente de uma
contribuição necessária de um democrata que jamais se omitiu em
defender a Constituição brasileira, mesmo que isso significasse
remar contra a maré, como a que vivemos agora, quando cada vez mais
se estreitam as condições para debates democráticos, substituídos
pela insensatez, pela intolerância e pelo ódio:
"O momento político
nacional
O momento político
nacional está bastante pesado e extremamente conturbado. Aliás,
como ensinava o saudoso Sérgio Ceotto, 'a situação está de
vaca não conhecer bezerro'.
Entendo que a turma
da lava jato, que hoje está politicamente no mesmo campo de atuação
que o grupo do Presidente da República e seus filhos, quer neste
momento solapar a qualquer custo a única instituição que eles
temem: o Supremo Tribunal Federal (STF).
Para tanto, através
da mesma rede social de Fake News que utilizaram nas eleições,
querem agora derrubar alguns ministros do STF para poderem com isso
nomear novos ministros e, assim, tornar a Corte dócil aos seus
interesses.
Isso explica a
reação do STF em instaurar Inquérito, a fim de apurar
o que está por traz da onda que quer desmoraliza-lo. Explica
também a posição de Bolsonaro que, há poucos dias, defendia
a ditadura e a tortura como métodos de atuação política e nesse
episódio vem a público para defender o direito constitucional
à LIVRE expressão do pensamento e plena liberdade de comunicação.
O MPF entra nessa
história, confundindo inquérito com ação penal, querendo ser o 'rei da cocada preta', como se não bastassem os poderes
que lhe outorgamos na carta magna de 88."
Foi sob sua primeira
gestão à frente da prefeitura de Vila Velha que teve início uma
das primeiras experiências de adoção do orçamento participativo,
instrumento pelo qual a sociedade participa da definição dos
investimentos prioritários de cada ano, antes da peça orçamentária
ser enviada para apreciação e aprovação do poder legislativo.
Mas se havia outras
experiências do mesmo tipo sendo conduzidas em outras
municipalidades, como em Porto Alegre, Vila Velha foi o primeiro
município a normatizar a elaboração do orçamento de forma
participativa, quando o prefeito Vasquinho, no ano de 1983, sancionou
uma lei para institucionalizar o processo, que mais tarde veio a ser
incluído na Lei Orgânica.
O correr da vida não
permitiu que tivéssemos contatos frequentes ao longo dos anos, desde
aquele longínquo 1995, embora volta e meio nos encontrávamos por
estes percursos da política que sempre fizeram parte da vida dele e
da minha. Entretanto tive a oportunidade e a felicidade de tornar
mais amiúde esses contatos a partir de 2015, quando as
circunstâncias da vida nos aproximou em torno do processo eleitoral
que culminaria com as eleições municipais de 2016.
Nessa época
iniciamos a construção de uma alternativa para governar Vila Velha
e contribuir com o fortalecimento do poder legislativo municipal,
que batizamos de Frente Vila Velha de Participação Popular (FVVPP),
construída inicialmente com as adesões do PPL, partido dirigido no
Espírito Santo por Vasco Alves; PCdoB e PT. Infelizmente não
logramos êxito em consolidar o projeto. Mesmo assim Vasco, com sua
determinação, disposição e coragem, foi para a disputa em uma
coligação PPL/PT. Não teria sido sua última experiência no
campo de batalha eleitoral, caso o percurso de sua vida não tivesse
sido concluído nesse último dia 25 de abril, uma data que considero
quase como um réquiem a esse grande brasileiro canela verde, pois
nesse mesmo dia e mês, no ano de 1974 se deu a Revolução dos
Cravos, que derrotou o regime fascista que governava Portugal desde
1933.